QUARESMA E TRÁFICO HUMANO

22/02/2014 16:20

No próximo dia 5 de março, Quarta-Feira de Cinzas, a Igreja inicia o tempo da Quaresma, um tempo especial que nos faz pensar nos quarenta anos em que o Povo de Deus perambulou pelo deserto em busca da Terra Prometida. As quatro décadas de provações serviram para amadurecer o povo para entrar na Terra da Libertação sem os vícios e os ídolos do cativeiro egípcio. Somente um povo novo, libertado, é capaz de fazer a travessia do cativeiro para a liberdade.

Durante esta Quaresma, a Igreja nos chama a viver a Campanha da Fraternidade (CF), cujo tema, nesse ano, é “Fraternidade e tráfico humano”, e o lema, tirado da carta de São Paulo aos Gálatas (5,1), é: “É para a liberdade que Cristo nos libertou”.

O objetivo da CF-2014 é identificar as práticas de tráfico humano em suas várias formas e denunciá-las como violação da dignidade e da liberdade humana, mobilizando cristãos e a sociedade brasileira para erradicar esse mal, com vista ao resgate da vida dos filhos e filhas de Deus.

Sabemos que o tráfico humano é tão antigo quanto a guerra na história da humanidade. O povo da Bíblia, por exemplo, foi escravizado por assírios, babilônios, egípcios etc. Quantas mutilações culturais e religiosas aconteceram? Inúmeras! Os europeus, nos últimos séculos do milênio passado, retiraram de terras africanas, durante vários séculos, milhões de homens e mulheres e os transformaram em peças de trabalho e de luxúria.

O tema da CF é atualíssimo, pois ultimamente os meios de comunicação nos falam de homens e mulheres – brasileiros e estrangeiros – que são submetidos a trabalhos degradantes em nosso território; sabemos também de inúmeros outros seres humanos que são levados para fora do País para serem explorados sexualmente por grupos que só visam o ganho de dinheiro a qualquer custo alheio. Não seria isso uma espécie de tráfico?

Se realmente acreditamos que “é para a liberdade que Cristo nos libertou”, vivamos esta Quaresma atentos à vida e à dignidade humana. É inconcebível a nossa tolerância a atitudes tão desumanas como essas tratadas pela CF. Em se tratando de tecnologia somos tão evoluídos, mas quando o assunto é gente e dignidade humana, ainda somos tão antigos quanto os homens da pedra lascada, infelizmente.

 

Ismar Dias de Matos, professor de Filosofia e Cultura Religiosa na PUC Minas.

E-mail:  p.ismar@pucminas.br