GANHAR OU PERDER

26/03/2012 22:23

 

Dom José Alberto Moura
Arcebispo de Montes Claros (MG)

É próprio de nossa natureza querer sempre vencer, ganhar e ser feliz. Nem sempre acertamos no uso dos meios para atingir nossos objetivos. Seguindo nossos impulsos instintivos muitas vezes queremos cortar o caminho, buscando meios mais gratificantes no momento. Nem sempre o caminho mais curto e mais prazeroso nos leva à nossa realização. Muitas vezes não enxergamos o ideal a ser atingido a médio e longo prazo. Jesus nos lembra o valor a ser conquistado, tendo-o sempre em mente para sua conquista: “Onde está o teu tesouro está o teu coração”!

Hoje há bem espalhada a cultura da busca do bem estar momentâneo, baseado nos hipotéticos valores sedimentados na vontade própria, nem sempre coadunada com bens imateriais objetivos. A obediência a preceitos, regras e riquezas éticas fica muito relativizada e muitas vezes desrespeitada, mesmo sabendo-se de sua fonte e valor maiores. A relativização de tudo feita pela vontade individual leva muitos a desqualificarem verdades objetivas e de grande ajuda à pessoa humana singularmente e à sociedade como um todo. Mesmo propostas religiosas baseadas em princípios transcendentais e revelados por Deus ficam muito à mercê da relativização pessoal.

Jesus vem nos mostrar o sentido da vida relacionado com bens superiores aos materiais. Para conquistá-los é preciso haver ascese ou exercitação na prática da canalização de nossos impulsos para sabermos promover a saúde ampla para todos. Isso nos custa treinamento contínuo para cooperarmos com o bem do semelhante e o respeito a toda a obra do Criador. Somente conquistamos vida feliz e realizadora quando damos de nós pela promoção do semelhante (Cf. Jo 12,25). Contrariamente à nossa inclinação para sempre buscarmos todo o bem para nós, o Mestre dá o exemplo e nos ensina a busca contínua da alteridade.

Somente nos tornamos pessoas realizadas quando facilitamos a realização dos outros, mesmo às custas de darmos nossa vida para isso. As consequências dessa atitude e desse comportamento são as melhores para todos. Teremos mais justiça, mais compreensão, inclusão social dos mais deixados de lado na convivência cidadã, políticos de caráter e de serviço ao bem comum, formação de famílias com critérios de maior doação e união de pessoas no mútuo apoio para a busca de um ideal comum de vida e de encaminhamento adequado dos filhos na vida...

A obediência a Deus, como fez o Filho dele, nos dá a segurança de realização verdadeiramente humana e feliz. Podem acontecer todos os transtornos, mas não sucumbiremos. Deus nos dá a segurança de vencermos: “E foi atendido por causa de sua entrega a Deus” (Hebreus 5, 7). É uma verdadeira aliança ou um pacto de amor. Fazendo nossa parte para realizarmos o projeto de Deus, temos a absoluta garantida de que superaremos todos os obstáculos da caminhada existencial (Cf Jeremias 31, 31-34). Tudo passa na vida. Também as situações difíceis. Prece que perdemos. Mas, no caminho indicado por Deus e na obediência a Ele, chegaremos ao porto seguro da existência. Ganhamos! Sem isso, nossa luta é vã, buscando somente a nós mesmos, que não somos deuses!

Fonte: www.pj.org.br/liturgia.php