Estudo Mostra Minas mais Rica e Majoritariamente Católica

24/08/2011 10:46

 Pesquisa da FGV revela que no Brasil o aumento da renda não se reflete na queda do catolicismo, como ocorre historicamente em outros países

Foi o próprio Cristo quem avisou: é mais fácil um camelo passar no buraco de uma agulha que um rico entrar no reino dos céus. Mas as relações entre economia e religião no Brasil indicam que a velha culpa católica, que inibiria os fiéis de São Pedro a deitar e rolar nas bonanças do capital, não faz tanto sentido por estas bandas. Estados mais católicos crescem mais, enquanto aumenta a participação de evangélicos nas classes AB e C. É o que mostra estudo da Fundação Getulio Vargas que traçou mapa das religiões no país e cruzou os dados com informações de renda e produto interno bruto das capitais, estados e regiões metropolitanas. Na comparação entre 2003 e 2009, Minas é a cara desse cenário: o catolicismo aqui perdeu menos espaço que nos estados vizinhos, mas a renda teve o maior crescimento do Sudeste (43,2%, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE).

A população mineira tem hoje 73,32% de católicos, praticamente a mesma participação que esses fieis tinham, na média brasileira, em 2000, segundo Marcelo Côrtes Neri, economista chefe do Centro de Políticas Sociais da FGV e coordenador do levantamento. A queda da população católica é fenômeno observado há anos no país, mas em Minas o ritmo é mais lento. A comparação do aumento da renda entre outros estados do Sudeste chama a atenção. Em todos eles, a queda da população católica no período é maior que cinco pontos percentuais. No Rio de Janeiro, a porcentagem de católicos já é de 49,8%, inferior à de pessoas que professam nenhuma ou outra fé, queda de 7.2 pontos percentuais entre 2003 e 2009. A renda no estado fluminense subiu 25,2%. No Espírito Santo, a queda da população católica foi de 9 pontos e a renda subiu 37%. A renda dos paulistas no período subiu apenas 17,5%. “É um movimento curioso, que tende ao desempenho nordestino, embora em menores proporções”, destaca Neri.

O Nordeste brasileiro é justamente o destaque do levantamento. Entre as unidades da federação, os mais católicos são os nordestinos com 74,9% de sua população. E é justamente a região que mais cresce. De 2001 a 2009, a renda do Nordeste cresceu 41,8%, contra 15,8% na média do Sudeste, a menos católica - com 64,3% de sua população. “A capital brasileira onde a renda cresceu mais no período foi Teresina (PI) com 56,2% e a periferia das grandes metrópoles (considerando todos os municípios menos a capital) onde a renda cresceu mais foi a de Fortaleza”, exemplifica Neri. Em cada uma das categorias geográficas, (capital e periferia), essas são as mais católicas do país, com 80,7% e 74,3% de sua população, respectivamente, pertencentes a essa religião. O estudo da FGV foi baseado na Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do IBGE.

Questão de classes

A análise das religiões entre as classes sociais, no Brasil, também mostra traços curiosos: os evangélicos tradicionais estão mais concentrados na faixa AB (8,33%) e C (8,72%) e essa participação cai junto com o nível de renda – na classe E, têm 4,69% de participação. A empresária Tânia Carvalho, que vende trajes executivos para mulheres evangélicas, com confecção e lojas focadas nesse mercado, diz que percebe esse movimento na cartela de clientes: “As classes AB estão dominando mesmo. Sou católica, mas enxerguei na moda evangélica oportunidade incrível. O preconceito com essas religiões está menor no Brasil. Pessoas mais esclarecidas, e com mais poder de compra, marcam presença forte nesse consumo”, diz Carvalho, que tem, na boca do caixa, índice de inadimplência zero, entre os clientes. “São fieis mesmo”, explica.

 Da ética às cifras sem culpa

Valores como ética e respeito ao próximo podem virar dinheiro. É o que acredita o presidente da Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas em Minas (ADCE-MG), Sergio Cavalieri, entidade que reúne, em Belo Horizonte, 160 empresários católicos, protestantes e de outras religiões. “Os ideais e os princípios cristãos nas empresas fazem com que elas tenham resultados melhores. Os valores cristãos colocam em primeiro lugar o outro e, quando o empresário aplica esses valores assim, a empresa serve à comunidade, às pessoas, aos clientes e funcionários e há bem estar geral. Com riqueza, gestão e benefícios compartilhados, todos ganham”, diz.

A jovem empresária Natália Vasconcelos, batista, considera as vidas econômica e religiosa indissociáveis: “Uma coisa tem totalmente a ver com a outra, porque a fé não é só ir à igreja, é mudar seu estilo de vida. Com isso, se você passa alguém para trás, na loja, é uma questão entre você e Deus”. Vasconcelos é proprietária de duas lojas de iluminação de interiores e diz que aprendeu com a mãe e com a igreja, que a gestão do negócio é a verdadeira noção prática do plantio e da colheita. “Se investimos certo, as portas vão se abrindo”, confia. Para Cavalieri, colocar o homem no centro da gestão é fundamental em atividades econômicas: “Se você acredita que vale tudo em nome do dinheiro, a coisa desanda, como aconteceu com os mercados financeiros, que amargam a atual crise. É resultado da ganância”.

Europa

O cenário internacional confirma justamente o assombramento do fantasma do sociólogo Max Weber, que, no século passado, disse que católicos são menos tendenciosos às punjanças do capitalismo que os evangélicos (leia no Saiba mais). Entre os 27 países da União Europeia em crise, o grupo dos Piigs (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha) é fundamentalmente católico. Marcelo Côrtes Neri, da FGV, lembra que a França, a maior economia católica do mundo, passou por ataque especulativo na origem da instabilidade financeira atual. (FB) 

Fonte: www.vidanovafm.com.br