BREVE COMPREENSÃO TEOLÓGICA DO DOGMA: MARIA, MÃE DE DEUS

04/05/2014 23:02

Breve compreensão teológica do dogma: Maria, mãe de Deus

 

Objetiva aqui fazer uma breve reflexão teológica do culto à Maria, mãe de Deus; analisando alguns momentos da manifestação amorosa de Deus na vida dessa mulher que se colocou totalmente disponível para fazer a vontade de Deus Pai, gerando em seu ventre o Salvador da humanidade, Jesus Cristo.

Ficará evidente o significado de um dogma, sobretudo deste dogma: a maternidade divina de Maria. Nessa perspectiva, alguns dados são relevantes e merecem destaque, como: a iniciativa de Deus de olhar para Maria e constituí-la a mãe do Salvador e a história do dogma de Maria, como a mãe de Deus. Nosso exercício teológico será caracterizado pelo uso do método clássico da teologia, isto é, a Revelação e a Tradição; com fundamentação nas Sagradas Escrituras.

            De início é oportuno olhar para a seguinte questão: o que significa um dogma? Mais do que simplesmente algo que está afirmado e pronto, o dogma significa uma experiência de fé num determinado momento histórico e que foi declarado como verdade de fé por seu sentido. Portanto, um dogma remente necessariamente a fé, como dom de Deus e adesão livre do homem. Ao pensar o significado de um dogma não se pode perder de vista a reflexão teológica que apresenta um Deus-Trindade que se revelou com seu projeto de salvação. E essa mensagem, à luz das Sagradas Escrituras, deve ser atualizada em cada realidade histórica, por isso, num dogma sempre permanece a essência, o conteúdo; mas a linguagem, a compreensão pode ser modificada na forma como se experimenta e vivencia aquela verdade de fé.

De acordo com Clodovis Boff (2004), “para interpretar um dogma é preciso levar em conta, entre outros, os seguintes critérios hermenêuticos: 1°) o tipo de linguagem, normalmente o comum da época; 2º) o contexto histórico, frequentemente de índole polêmica; 3º) e o lugar do dogma em questão na hierarquia das verdades.”[1] Não tem como falar do dogma da maternidade divina fora do plano da salvação, até mesmo porque as reflexões mariológicas são construídas em torno da manifestação de Deus Pai, Filho e Espírito Santo. Os dogmas mariológicos são chamados de derivados porque se fundamentam nos dogmas trinitários e cristológicos.

A Igreja formulou os principais dogmas nos primeiros séculos de sua história para esclarecer questões ligadas à fé, diante das dificuldades de interpretação da Bíblia em diferentes culturas. As duas naturezas de Jesus, humana e divina; foi uma questão que ganhou atenção especial. Jesus é homem e Deus? A compreensão cristológica a partir dessa pergunta é a base para se entender o dogma de Maria, mãe de Deus. Maria é mãe de Jesus/humano ou de Jesus/divino? Isabel acena para a maternidade divina de Maria: “Como posso merecer que venha me visitar a mãe do meu Senhor?” (Lc 1, 43). A Virgem Maria “foi aparecendo no horizonte teológico da Igreja primitiva somente à luz de Jesus e por razões nitidamente Cristológicas”[2]

Olhando o contexto histórico, duas escolas foram expressivas naquele período de reflexões sobre a maternidade divina de Maria: a escola de Antioquia (Cristotokos) e a escola de Alexandria (Theotokos). Segundo Afonso Murad (2004), “Nestório de Antioquia defendia que a humanidade e a divindade de Jesus, embora estivessem na mesma pessoa, eram bem delimitadas; a maternidade diria respeito apenas a dimensão humana de Jesus.”[3]

O Concílio de Éfeso[4], celebrado no ano 431, esclareceu melhor quem seria Jesus, humano e divino. Retomando o pensamento de Murad; “seguindo o parecer de São Cirilo de Alexandria, em Cristo há uma comunicação tão grande entre o humano e o divino que as realidades profundas vividas por Jesus de Nazaré tocam a sua divindade, (..) Maria é a mãe de Jesus Cristo, não somente de sua humanidade.”[5] Nesse mesmo Concílio citado concluiu que Jesus era Deus e homem numa só pessoa, superando oposições teológicas anteriores sobre as duas naturezas de Jesus, humana e divina.

Por fim, essa certeza de Maria, mãe de Deus, Theotokos, tem um significado especial para a fé cristã. Maria é a mãe de Deus, pois deu à luz ao Verbo, o logos de Deus feito carne. Ela não é mãe da Trindade, mas sim mãe de Deus/Filho encarnado. “Com efeito, Aquele que Ela concebeu como homem por obra do Espírito Santo, e que Se tornou verdadeiramente seu Filho segundo a carne, não é outro senão o Filho eterno do Pai, a segunda pessoa da Santíssima Trindade. A Igreja confessa que Maria é verdadeiramente Mãe de Deus.”[6]

 

 

 

André Luiz Eleotério da Lomba

Seminarista – 3° Ano de Teologia

Diocese de Guanhães - MG



[1]BOFF, Clodovis. Teoria do Método Teológico. Coleção Teologia e Libertação. Petrópolis/RJ: Vozes, 2004

[2] AUTRAN, A. M. Maria na BíbliaSão Paulo: Ave Maria. 1992.

[3]MURAD, Afonso. Maria, toda de Deus e tão humana. São Paulo: Paulinas, 2004, p. 101

[4]O Concílio de Éfeso decidiu que Nossa Senhora devia ser chamada de Theotokos, Mãe de Deus e não Christotokos, Mãe de Cristo, como queria Nestório que fora condenado pelo mesmo Concílio (ROPS, 1991, p. 156).

[5]MURAD, Afonso. Maria, toda de Deus e tão humana. São Paulo: Paulinas, 2004, p. 101

[6]Catecismo da Igreja Católica, nº 495